Eternos e finitos, brincando de Deus: Uma reflexão sobre a morte...
- Prof. Paulo Pereira
- 27 de mar. de 2016
- 4 min de leitura
Talvez ser finito e eterno não seja exatamente tão contraditório. Dizer que o ser humano pode "brincar de Deus" pode parecer uma coisa perversa, maléfica, coisas de filme de ficção científica ou então história de algum humano que quis desafiar a Deus, sua onipotência. Bem, eu não acho que seja nada disse. Para se brincar de Deus precisa olhar para a própria finitude, para a morte. Penso que brincar de Deus seja simplesmente o ser humano tentar dar um sentido a própria vida. Acho que foi isso que Deus nos pediu, não é?

Hoje foi um dia atípico. Por três motivos: pela morte de meu avô, pela morte de um amigo e pela celebração da morte de Jesus.
Ainda de madrugada recebi uma mensagem da mamãe dizendo que o vô havia falecido. Na casa dos 80, saúde já debilitada, numa fase já de muito sofrimento. Um alívio a ele e a nós que assistíamos seu calvário. Nem por isso a morte não mexe com a gente. A morte é a experiência última da finitude, é nela que nos encontramos com o que realmente somos. Nos traz a percepção, nos relembra o que relutamos em esquecer: somos frágeis, somos limitados, somos pó, uma fagulha de energia num universo tão grande.
A tarde vejo no Facebook uma postagem de um amigo, comunicando seu falecimento, com a assinatura de sua irmã. Confesso que a princípio não dei atenção. Pensara ser aqueles testes para ver quem lê ou não o seu perfil, ou se você sentiria a minha falta ou não, algo assim. Contudo, percebi que a repercussão havia sido maior do que os costumeiros testes. Conheci Antonio Netto em um encontro em Lorena.
Nós não éramos tão próximos, nem convivemos, nos encontramos algumas vezes, tínhamos vários amigos em comum e nos falamos on line algumas vezes. Fiquei triste. Alguém tão jovem, futuro tão promissor, cheio de projetos. Uma pneumonia, algumas complicações e de ontem para hoje ele veio a falecer. Pensei em sua mãe, pai, família.
Pensei na inconformidade com a vida que tomaria meu coração se perdesse um filho. Pensei no sofrimento de quem o via todos os dias e não mais verá. Pensei em sua idade, tão pouca e na minha pouco distante. E a fragilidade que constatara mais cedo veio ainda mais forte. Relembrei que a fragilidade não está apenas no idoso, mas também em mim na flor da idade. Pensei sobre o valor da vida. O seu tão grande valor, e o seu tão pequeno valor.
Ainda triste, estando em Pinda fui assistir o teatro dos Aspirantes nos Salesianos Pindamonhangaba. Na encenação, atuada e cantada, retomava o sentido da Paixão. Falamos sempre e tão longamente do amor de Deus por nós e sua doação na cruz e, sempre tive um questionamento que fui respondendo aos poucos em minha vida de fé. Se Deus é Deus, e Jesus também o é. Se Deus é todo poderoso e pode todas as coisas. E se Jesus fazia o bem e lutava pela transformação do mundo, e se o que fazia era bom... Por que Deus não encontrou um jeito de poupar Jesus, seu filho e Deus conosco, para que não precisasse morrer, e mesmo assim salvar a humanidade.
E olhando para as cenas do teatro retomava o sentido de sua morte. Jesus veio a terra para ser humano, e qual dentre os humanos não morre? Se não morre já não é humano. Assim foi com Jesus, que se encontra com desespero, com a tristeza, com a finitude, real e absoluta, pois não veio ser um humano de brincadeirinha.
Bem, esses três momentos do meu dia foram fortes e quis aqui compartilhar porque creio que a experiência da finitude seja a experiência mais radicalmente humana que podemos fazer, e nela também que podemos dar um significado para a nossa vida. Isso não quer dizer cultuar a morte sentar-se e ficar esperando que ela chegue.
Quer dizer que o sentido da vida se encontra olhando para a existência, vendo que existe um fim que ainda não chegou. Se esse fim não chegou, busquemos fazer valer a pena, e que nas experiências tristes, ruins, de finitude, limitação, possamos nos lembrar da esperança que está no fato de que nem as coisas ruins duram para sempre, e que amanhã o Novo Sol renascerá nos convidando a em nossa condição de finitude começar tudo de novo, na esperança do amanha, num novo inicio renovar todas as coisas, como ele fez.
A criança quando brinca ela fantasia. Brincar de Deus é isso, mesmo tendo em vista sua finitude, olhar a vida com suas possibilidades, e assumir aquilo que Deus colocou em nossas mãos.
E o poder onipotente? O poder de Deus é o amor. E seu amor é tão grande que nos deu seu poder, nos deu seu amor. Eternidade é fazermos com que seu amor, através de nós continue vivo. É que nós em nossa vida, finita e limitado, deixemos o que temos de bom para o mundo. Assim, seremos poderosos, eternos, humanos e divinos!
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