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Fantasia de Índio: Apropriação cultural ou excesso de politicamente correto?

  • Paulo Pereira Neto
  • 13 de abr. de 2018
  • 3 min de leitura

Índio não é fantasia, índio é identidade e cultura de um povo. Mulher não é fantasia, mulher é gênero e não deve ser usado como fantasia! E padeiro? Padeiro não é fantasia, é uma profissão. E gay? Não é fantasia, é orientação. E Chaves? Chaves é um personagem e merece todo o respeito! O que torna uma fantasia depreciativa e o que é apenas “politicamente correto”?

Recentemente, na semana próxima ao carnaval saiu na internet um vídeo de líderes indígenas criticando o uso da imagem do indígena como fantasia de carnaval. Alguns dias depois, saiu também um vídeo de uma líder indígena contradizendo o vídeo anterior, onde fala que vestir-se de índio é um modo de reconhecimento da cultura e que não significa necessariamente desrespeito. Depois destes episódios houve uma série de matérias e posicionamentos nas redes sociais de pessoas concordando e discordando sobre o uso de fantasias que usam de identidades, criticando a falta de respeito e a apropriação cultural. Mas enfim, é ou não é apropriação cultural? Uso de fantasias é falta de respeito?

Entre a objetividade e a subjetividade

É importante primeiro ter em vista que a discussão não é algo terminado. Estamos falando do modo como nós nos relacionamos com a objetividade e subjetividade. Ou seja, a crítica

Há uma grande confusão de conceitos em relação a lutas indenitárias e o chamado “politicamente correto”.

Fantasias são jogos, brincadeiras, metáforas e símbolos. Não tem em si mesmo significados objetivos, a não ser que isso seja dado objetivamente. O fato de usar uma fantasia indígena, ou de qualquer outro tipo, identitário ou não, não quer dizer necessariamente que desrespeito. Tudo o que é cultural tem uma dimensão de transformação, de construção simbólica que é feito pelo ato de apropriar de algo para transformar. Se começarmos a ver tudo o que é cultura de modo objetivo, tudo passará a ser proibido, pois tudo que é cultura tem sempre trabalho, ideias, identidades de outras pessoas. Caímos no risco de cair em uma proibição de tudo por que pode de alguma forma ofender alguém, o chamado “politicamente correto”, que eu pessoalmente não gosto por outros motivos.

Quer dizer que podemos nos fantasiar e simular qualquer coisa pois a ofensa está nos olhos de quem vê? Também não é bem assim. Se o uso da cultura não é por si ofensivo, da mesma forma ele não é por si mesmo amigável. Em outras palavras, o uso de fantasias pode também ser ofensivo de modo a não dever ser usado. Tudo depende do modo como isso é feito. Acontece que hoje, em nossa sociedade temos recorrido muito mais ao moralismo, ao punitivismo e ao legalismo, do que usado nossa capacidade de reflexão ética para pensar o que deve e não ser feito.

Assim, é importante distinguir uma pessoa que se veste de indígena como fantasia, até mesmo por gostar, de uma pessoa que se veste de indígena para insinuar que indígenas são ignorantes ou atrasados. E isso vale para outras situações. Pode ter uma pessoa que se veste de padre como fantasia de carnaval ou para um teatro como uma homenagem, e pode ter outra pessoa que se veste de padre para insinuar que padres são pedófilos. Pode-se se vestir de baiano por gostar de sua cultura, ou para dizer que ele é preguiçoso. Desse modo o significado que é dado é mais importante do que o fato de usar ou não aquele aspecto cultural.

É importante frisar ainda que apropriação cultural não é o fato de alguém incorporar elementos de uma outra cultura. Isso é próprio da cultura, mais ainda da misturas de culturas que existe no Brasil. Apropriação cultural tem mais a ver com o uso da cultura não enquanto valorização dessa, mas o seu uso para outros interesses, por exemplo, o desrespeito ou sátira dela, como dito anteriormente, ou o uso financeiro, como no capitalismo. Isso se aplica a qualquer cultura. Recentemente discutíamos a apropriação cultural no uso de turbante por pessoas brancas. É importante distinguir o uso de desrespeita e até nega o valor da cultura, do simples uso de símbolos que tem significados e que são ressignificado o tempo todo, pois a cultura é assim, ela é dinâmica, não estática.


 
 
 

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